segunda-feira, setembro 14, 2009

Danço eu, dança você


Bethânia amargava na introspecção. Isso porque conhecera um sentimento da pior qualidade: a desilusão. Desta vez nada tinha a ver com o coração, seja partido ou vazio. O cotidiano de responsabilidades a decepcionava.
Pessoas sem respeito, mal educadas, ciumentas, que sentem prazer em desvalorizar o próximo, o excesso de afazeres e as péssimas condições de sobrevivência. Ela não conseguia aceitar a justificativa: “tem muita gente em situação pior”. Sim, existe, mas ela não tinha culpa disso. E também lembrava que tinha outras muitas criaturas em condições bem melhores.
O último golpe viera de uma pessoa muito próxima. Sabe aquelas amigas com quem, há décadas, andava de bicicleta, ia pra escola e brincava de boneca diariamente? E mesmo depois de tanto tempo, jamais perderam o contato. Pois é, essa amiga resolvera partir para um nível inferior e tentar dar uma rasteira profissional. Para uma escritora iniciante como Bethânia, tal acontecimento poderia ser fatal.
As canetas receberam férias. Várias borrachas foram gastas, na tentativa vã de apagar alguns fatos. O rádio estava no volume mínimo. E se ele desligar...